Carta de Plínio ao
imperador Trajano (c. 111-112)
Plínio, o Moço.
Correspondência X 96. Trad. Belles Lettres
Plínio o Moço (61-114). Sobrinho e filho adotivo do enciclopedista Plínio o
Antigo, Foi advogado, orador e político. Trajano o designou como legado para a
Bitínia. Homem honesto, cultivado. Plínio publicou sua correspondência que traz
ao nosso conhecimento a sua carta a Trajano a respeito dos cristãos, bem como a
resposta do imperador.
[...] Nunca participei de uma instrução contra os cristãos: desconheço, por
conseguinte, que fatos são punidos habitualmente, em que se baseia a
investigação e até onde é necessário ir[...]. trata-se unicamente do nome
[cristão], na ausência de crimes, ou dos crimes inseparáveis do nome que devem
ser punidos?
Provisoriamente eis a linha de conduta que adotei em relação àqueles que me
foram denunciados como cristãos. Eu próprio perguntei-lhe se eram cristãos.
Aqueles que reconheciam sê-lo, repeti essa pergunta uma segunda e uma terceira
vez, ameaçando-os com o suplicio. Aqueles que persistiam mandei executa-los.
Com efeito, o que quer que significasse a sua confissão, era para mim
indubitável que aquela teimosia , aquela inflexível obstinação merecia ser punidas.
Ouve outros possuídos da mesma loucura, que em razão de sua qualidade de
cidadãos romanos, designei para serem enviados a Roma [...]. Vários casos
particulares se apresentaram [...]. Houve aqueles que negaram ser cristãos ou
tê-lo sido. Quando eles, a instâncias minhas, invocaram os deuses, ofereceram a
tua imagem, súplicas de incenso e de vinho e alem disso, blasfemaram contra o
Cristo – coisas a que segundo se diz, é impossível obrigar aqueles que são
realmente cristãos – reconsiderei poder libertá-los. [...].
Outros asseguravam que tinham deixado de ser cristãos , alguns há três anos,
outros há mais tempo ainda e alguns mesmo a vinte anos. Todos esses também
veneravam a tua imagem, as estátuas dos deuses e blasfemaram contra o Cristo.
Por outro lado eles afirmaram que toda sua falta ou seu erro, se limitara a
reunir-se habitualmente num dia fixo, antes de nascer o sol, para cantarem
entre si, alternativamente um hino a Cristo, como se fosse um Deus e para se
comprometer através de juramento, não a perpetrar este ou aquele crime, mas a
não cometer nem roubo, nem pilhagem, nem adultério, a não faltar a palavra
dada, a não negar a devolução do que lhe for confiado quando solicitado. Depois
disso, eles tinham o costume de se separar, para voltarem a se reunir a fim de
fazerem uma refeição, mas uma refeição bastante comum e inocente. Eles haviam
renunciado também a essa prática depois do édito no qual, segundo suas
instruções, proibi as associações. Considerei ainda mais necessário a busca da
verdade, através até mesmo da tortura, no que se referia a duas escravas que
eles denominavam diaconisas. Nada mais encontrei que uma superstição irracional
e desmesurada.
Dessa maneira, suspendi a instrução para recorrer a teu conselho. A questão me
pareceu merecê-lo sobretudo em função do número daqueles que estão
comprometidos. Tratas-se de uma grande quantidade de de todas as idades, de
todas as condições, dos dois sexos que são pronunciadas pela justiça ou que os
serão. Não foi somente as cidades, mas também aldeias e campos, que sofreram o
contágio dessa superstição. Creio que será possível dete-la e corrigi-la. Assim
se constatou que os templos que pouco a pouco tinham sido abandonados, estão
sendo novamente freqüentados, que são retomadas as festas solenes há muito
interrompidas [...].
Fonte: http://imfatima.blogspot.com.br